Arte do Sul Global em São José do Rio Preto

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postado em 19/09/2016
Exposição das obras premiadas no 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil leva ao Sesc Rio Preto olhar de treze artistas internacionais sobre o Sul Global

A partir do dia 4 de outubro de 2016 (terça-feira), às 19h, o público da cidade de São José do Rio Preto poderá conferir as obras premiadas no 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Panoramas do Sul, que aconteceu de 6 de outubro a 6 de dezembro de 2015 em São Paulo. Treze artistas da África do Sul, Brasil, Líbano, Austrália, China, Polônia, Peru, Rússia e Turquia terão seus vídeos e videoinstalações expostos no Sesc Rio Preto até o dia 05 de fevereiro de 2017. Uma oportunidade única de conhecer algumas das várias vertentes da produção artística recente do Sul Global, uma região simbólica que, se não corresponde a definições geográficas ou a uma série constante de situações políticas, sociais, históricas e econômicas, ganha estatuto de território imaginado, com vozes próprias, por meio da arte.

Nessa mesma noite da abertura, às 19h30, acontece uma atividade dos programa públicos da Itinerância no Teatro do Sesc Rio Preto. O antropólogo Alex Flynn e a jornalista e pesquisadora Nathalia Lavigne participam da mesa “O Sul Global e o 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil”, com mediação do pesquisador Ruy Luduvice. A entrada para a atividade é gratuita.

O viés geopolítico que aproxima regiões de passado colonial em um heterogêneo conjunto de sotaques afins é uma ideia que guia o Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil desde os anos 1990, quando teve início a parceria da Associação Cultural Videobrasil com o Sesc São Paulo. A partir daí, o festival se internacionaliza e torna-se pioneiro na promoção e difusão da arte produzida no Sul Global, território composto por países que estão fora dos eixos hegemônicos. Dentro desse contexto, a exposição Itinerância 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Obras Premiadas permite a expansão da apresentação das obras dos artistas premiados para outras localidades, contribuindo para a ampliação do circuito de arte e para a formação de novos públicos.

A Itinerância 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil leva ao Sesc Rio Preto a exposição das obras contempladas com o grande prêmio, prêmios de residência e menções honrosas pelo júri do Festival. As produções destes artistas exemplificam motivos e preocupações recorrentes na produção mapeada pelo Panoramas do Sul. Tratam do acirramento da ideia de crise e da urgência de reacessarmos a condição do sujeito no mundo e sua relação com o outro; das memórias escondidas que assombram a noite da história, do esfacelamento das utopias, da democracia combalida, da propagação do ódio à diferença; do limite entre corpo e arquitetura como metáfora possível para a distância entre desejo e concretização; do impacto da esfera pública nas relações da intimidade; de paisagens desoladoras de parca presença humana que derivam do aniquilamento da conexão homem/natureza.

A forte presença do vídeo, seja instalado, seja narrativo, tanto na exposição quanto entre as obras premiadas, aponta para a vitalidade contínua da imagem em movimento no contexto do Sul Global, ao mesmo tempo em que reflete o percurso e a história do Festival.

Além de conhecer as obras dos artistas premiados nesta última edição, no Sesc Rio Preto o público poderá participar de atividades de programas públicos, acessar documentários e publicações produzidas pela parceria entre o Sesc São Paulo e a Associação Cultural Videobrasil e assistir a outras obras na Videoteca, onde estarão disponíveis os demais trabalhos selecionados para o 19º Festival, além de obras das edições anteriores, num total de quase 1.500 obras em vídeo.


Mais sobre a mesa de abertura

A questão do Sul foi o tema central do 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil. Se nas edições anteriores do Festival ela já comparecia como critério de seleção dos artistas participantes da mostra Panoramas do Sul, em sua décima nona edição tratou-se de colocá-la sob o escrutínio dos artistas participantes, bem como dos críticos, dos curadores e de todos os que formaram sua programação. Como parte desse projeto, ao longo do ano de 2015 teve lugar o Observatório do Sul, uma plataforma de discussões que reuniu, em quatro encontros, profissionais das mais diversas áreas de atuação no campo da cultura para debater o tema, promovidos em parceria entre o Sesc São Paulo, o Goethe-Institut e a Associação Cultural Videobrasil. Na mesa de abertura da Itinerância no Sesc Rio Preto, “O Sul Global e o 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil”, dois desses participantes – o antropólogo Alex Flynn e a jornalista e pesquisadora Nathalia Lavigne – são convidados para partilharem com o público as reflexões realizadas ao longo destes encontros.

Alex Flynn é antropólogo do Departamento de Antropologia na Universidade de Durham (Reino Unido) e bolsista de pós-doutorado pela British Academy. Sua pesquisa atual se dirige ao campo da arte contemporânea, com ênfase em estética e política. No Brasil, desenvolve pesquisas desde 2007 com temáticas relativas a movimentos sociais, subjetividade política e manifestações culturais. É autor do livro Anthropology, Theatre and Development (Palgrave, 2015) em parceria com Jonas Tinius, e coordenador da Anthropologies of Art [A/A], plataforma de difusão de perspectivas contemporâneas da antropologia da arte. Integra a equipe curatorial da Residência Artística Cambridge, como curador residente.

Nathalia Lavigne é jornalista, pesquisadora e mestre em Teoria Crítica e Estudos Culturais pela Birkbeck, University of London. Atualmente realiza uma pesquisa sobre colecionismo digital e reprodução de obras de arte no Instagram no programa de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Escreve para veículos como Bamboo, Select, Artforum, entre outros, e desenvolve um trabalho de acompanhamento artístico e da programação da galeria Zipper.

Ruy Luduvice é pesquisador responsável pelo Núcleo de Acervo e Pesquisa da Associação Cultural Videobrasil. É doutorando em Filosofia pela Universidade de São Paulo, dedicando-se à interface entre Estética e Artes Visuais. Concluiu mestrado (2013) e graduação (2009) na mesma instituição, com intercâmbio na Université Paris Ouest Nanterre La Défense (2007–2008). É membro do Grupo de Estudos em Estética Contemporânea, ligado ao Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - FFLCH/USP. Vive e trabalha em São Paulo.

Antes de ser exibida nesta unidade, a exposição Itinerância 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Obras Premiadas passou pelo Sesc São Carlos entre julho e setembro de 2016.


Conheça mais sobre os artistas e as obras premiadas que serão apresentadas no Sesc Rio Preto:

ALI CHERRI (LÍBANO)
Menção Honrosa

Ali Cherri é artista visual, mestre em artes performáticas pela DasArts, Amsterdã, Holanda, 2005. Sua produção transita entre vídeo, instalação, performance, multimídia, objeto e impressão. Em suas obras, aborda a fragilidade da situação geopolítica do Líbano e dos países vizinhos com frequentes reflexões sobre a dimensão sublime da catástrofe. A partir de relatos históricos e pessoais, investiga uma violência ainda não elaborada pelo político, ou por algum indivíduo particular, explorando as fronteiras entre o real e o virtual, o físico e o digital. Suas obras circulam entre o circuito da arte e os festivais de cinema, tendo sido exibidas na Bienal de Fotografia de Helsinki, Finlândia (2014); Tate Modern, Londres, Inglaterra (2013); Home Works 6, Beirute, Líbano (2013); Festival de Cinema Berlinale, Berlim, Alemanha (2013); Festival Internacional de Cinema de Toronto, Canadá (2013 e 2012); Museum of Modern Art, Nova York, EUA (2012); Centre Georges Pompidou, Paris, França (2011); Contemporary Image Collective, Cairo, Egito (2009); 52ª Bienal de Veneza, Itália (2007); Manifesta, Amsterdã, Holanda (2005); entre outros. Vive e trabalha entre Beirute e Paris.

The Disquiet, 2013 | vídeo, 20’


As quarto falhas geológicas que atravessam o território do Líbano geram instabilidade só comparável, em tempos modernos, aos intermitentes reveses bélicos e políticos experimentados pelo povo do país – que, de resto, fica no oriente médio, uma das regiões mais conturbadas por conflitos do globo. O artista usa uma poderosa analogia para comentar situações cujo impacto sobre o tecido social só se compara à incomensurável (e incontrolável) sanha destruidora da natureza.

ALINE X E GUSTAVO JARDIM (BRASIL)
Prêmio de Residência Res Artis (Kooshk Residency — Teerã, Irã)

Aline X é cineasta e artista visual. Formada em comunicação social pela UFMG, é sócia-fundadora da produtora 88 Filmes, voltada a vídeos experimentais, documentários e performances. Foi produtora da rede de televisão educativa LA36, em Los Angeles, Estados Unidos. Como montadora, assistente de direção e produtora, trabalhou com realizadores como o grupo Feito a Mãos/F.A.Q., Cao Guimarães, Éder Santos, João Vargas, Patrícia Moran, Carlos Magno e Marilia Rocha. Vive e trabalha em Belo Horizonte. Gustavo Jardim é artista visual e cineasta. Formado em relações internacionais, cursou cinema etnográfico na University of Toronto, Canadá. Atua, sobretudo, nos campos do documentário e do vídeo experimental. Integra o coletivo de produção artística independente DuRolo, que discute a relação entre diferentes linguagens no processo de criação colaborativa. Teve filmes exibidos e premiados em mostras e festivais nacionais e internacionais. Colaborou com programas de formação ligados ao audiovisual e à gestão cultural. Vive e trabalha em Belo Horizonte.

Tocaia | 2014, videoinstalação

A palavra tocaia tem origem no tupi (tokáia) e quer dizer armadilha para caçar; a esse sentido, foi incorporado o de emboscada, que se aplica não só a animais, mas também a pessoas. Na instalação de Aline X e Gustavo Jardim, assistimos a uma manada, aglomerada por detrás de uma cerca, que fita a câmera; seus movimentos mínimos, mas de grande intensidade, geram um estado de alerta e tensão. O espectador, diante dos bois, está na posição de ameaça; mas é também por eles ameaçado. Se está diante de uma tocaia, não sabe a quem ela está destinada.

CLARA IANNI (BRASIL)
Prêmio de Residência A-I-R Laboratory (A-I-R Laboratory — Varsóvia, Polônia)

Clara Ianni é artista visual. Usa vídeo, instalação e objeto, entre outras linguagens, para investigar as relações entre arte, política e ideologia. Participou da 31ª Bienal de São Paulo (2014), do 33º Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo (2013), do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo (2012) e da 12ª Bienal de Istambul, Turquia (2011), entre outras mostras. Foi assistente de curadoria da 7ª Bienal de Berlim, Alemanha (2012) e do Musée du Louvre, Paris (2008, 2009). Vive e trabalha em São Paulo

Forma Livre | 2013, vídeo

Em Forma Livre, a artista usa áudios de entrevistas em que Oscar Niemeyer e Lucio Costa são interpelados sobre o massacre, em 1959, de operários revoltados com as condições desumanas de trabalho na construção de Brasília. Um trabalho focado nas discrepâncias entre discurso e prática, projeto e realidade, monumento e ruína.

HUI TAO (CHINA)
Grande Prêmio

Hui Tao é artista visual, bacharel em pintura pelo Instituto de Belas-Artes Sichuan, Chongqing. Trabalha com artes gráficas, pintura, vídeo, objeto e instalação. Sua obra recorre a procedimentos tecnológicos e a elementos da tradição chinesa para questionar a ideia de globalização, as relações virtuais e o pensamento hegemônico. Participou de exposições como Où vas-tu, Espace des Arts Sans Frontières, Paris (2014), Positive Space, Times Museum, Guangzhou, China (2014), Leap Video Project, Hong Kong (2013), The Worst Show, Gland Space, Pequim (2012), e do WuSi Youth Art Festivals, Pequim (2011). Vive e trabalha em Pequim.

Talk about body | 2013, vídeo

O artista está sentado em sua cama, vestindo os trajes de uma mulher islâmica. Contidamente, em tom de voz baixo, dirige-se às pessoas que estão a sua volta, descrevendo a si mesmo e falando de como as migrações e invasões no lugar onde nasceu configuram sua estrutura corporal. Nada explica a composição do quadro, a ambiguidade de gênero do artista-personagem, a indumentária de uma cultura distinta da sua, a presença de público no ambiente íntimo de seu quarto. A obra discute, com sutileza e força, a aleatoriedade da ideia de pertencimento ou o alheamento subjetivo que é intrínseco ao conceito de identidade.

KAROLINA BREGULA (POLÔNIA)
Prêmio de Residência Res Artis (Djerassi Resident Artists Program — Woodside, EUA)

Karolina Breguła é artista visual. Seu trabalho transita entre instalação, happening, vídeo e fotografia, e investiga o papel da arte na sociedade contemporânea, muitas vezes de forma irônica e paródica. Mostrou sua produção na 55ª Bienal de Veneza (2013), Zachęta National Gallery, Varsóvia (2013), Centro de Arte Contemporânea Ujazdowski Castle, Varsóvia (2013), Museu de Arte de Kalmar (2012), Centro de Arte Contemporânea Łaźnia, Gdańsk (2011 e 2006), Real Art Ways, Hartford (2006), entre outros eventos e instituições. Vive e trabalha em Varsóvia.

Fire-Followers | 2013, vídeo

Uma cidadezinha no norte da Europa é recorrentemente atingida por incêndios, que destroem, inclusive, suas coleções de arte. Para evitar as queimas constantes, são desenvolvidos e aplicados métodos de prevenção. No entanto, espalha-se entre a população o rumor de que a queima de obras de arte seria intencional e necessária à renovação do pensamento criativo e do patrimônio artístico. Mesmo não havendo prova disso, o medo e a paranoia tomam conta dos moradores, que passam a temer a arte.

KÖKEN ERGUN (TURQUIA)
Prêmio de Residência China Art Foundation (Red Gate Residency — Pequim, China)

Köken Ergun é artista e mestre em história da arte pela Istanbul Bilgi University. Trabalhou com teatro antes de atuar nos campos do vídeo e da performance. Seu foco de interesse são os rituais do nacionalismo e das comunidades minoritárias enquanto criadores de identidade e unidade. Suas obras foram exibidas no Wilhelm-Hack-Museum, Ludwigshafen (2014), no festival Protocinema, Nova York (2013), na Triennale du Palais de Tokyo, Paris (2012), e no Stedelijk Museum Bureau, Amsterdã (2007), entre outras instituições. Seus filmes receberam prêmios em eventos internacionais como o Festival de Cinema de Roterdã (2007) e a Berlinale (2013). Vive e trabalha em Berlim.

Bayrak (The Flag) | 2006, videoinstalação

No dia 23 de abril, a Turquia celebra o Dia da Criança e o estabelecimento do Parlamento Turco, em 1920, após a queda do Império Otomano. A obra registra a celebração patriótica em um estádio de Istambul, com alunos de escolas primárias da cidade interpretando coreografias que lembram cerimônias de estados totalitários, da Coreia do Norte à Itália fascista. Ergun sublinha um exemplo do nacionalismo que regressa com força em todo o mundo. As crianças, vistas utilitariamente como cidadãos do futuro, tornam-se alvos preferenciais das máquinas de propaganda; a educação converte-se em violenta arma ideológica.

LUCIANA MAGNO (BRASIL)
Prêmio de Residência Delfina_Videobrasil (Delfina Foundation — Londres, Reino Unido)

Luciana Magno é artista e pesquisadora. Focado no corpo e na performance, seu trabalho discute questões políticas, sociais e antropológicas relacionadas ao impacto do desenvolvimento da região amazônica. Já mostrou suas obras no Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza (2014), no salão Arte Pará, Museu de Arte do Estado do Pará, Belém (2014), e no Museu de Arte do Rio de Janeiro (2013), entre outros espaços. Foi ganhadora da 10ª edição do Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais com o projeto Telefone sem fio, no qual cruzou o país do Oiapoque ao Chuí por rodovias e hidrovias para constituir um arquivo de vídeo e áudio sobre a diversidade cultural, histórica e geográfica do Brasil. Vive e trabalha em Belém.

Trans Amazônica | 2013, vídeo

Projeto ambicioso do regime militar brasileiro, a rodovia Transamazônica atravessa sete estados e habita o imaginário de várias gerações, pela grandiloquência das dimensões e pela ideia de futuro desenvolvimentista e união nacional que carrega. Inúmeras alterações e a falta de uma política rodoviária consistente contribuem para que permaneça, ainda hoje, inacabada. Nesta performance, a artista coloca-se em um trecho da estrada em posição fetal, também a postura em que os indígenas são enterrados. Um trânsito crescente movimenta o trecho, que dá acesso à cidade de Altamira e à polêmica construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, na bacia do Xingu.

MAYA WATANABE (PERU)
Prêmio de Residência Res Artis (Kyoto Art Center — Quioto, Japão)

Maya Watanabe é artista visual. Usando vídeo, videoinstalação e performance, explora questões de identidade, rupturas, causalidade e narrativas não lineares. Teve suas obras expostas em instituições como Matadero Madrid, Madri (2014), Palais de Tokyo, Paris (2013), Musée du Quai Branly, Paris (2013), Museo de Arte Contemporánea de Lima (2011, 2013), Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri (2009), Museo de Arte Moderna, Buenos Aires (2009). Participou da Bienal de Pequim (2009) e da Amsterdam Mediamatic Biennale (2009), entre outras. Vive e trabalha em Madri.

Escenarios II | 2014, videoinstalação

Um descampado desértico é percorrido por um sutil movimento de câmera, que gira e examina a paisagem. Num dado momento, um carro em chamas surge em meio à topografia acidentada. A cena parece não findar, uma vez que sempre retornamos o olhar aos mesmos pontos, lugares, na busca de algum dado que informe a natureza daquilo que se passa. Não há sinal de presença humana na obra, senão pela constatação de que algo aconteceu – um carro abandonado pega fogo – e pelo modo como Watanabe coloca o próprio espectador no lugar de testemunha daquilo a que assiste.

MICHAEL MACGARRY (ÁFRICA DO SUL)
Menção Honrosa

Michael Macgarry é artista visual e cineasta, mestre em artes pela University of the Witwatersrand, Johannesburgo, África do Sul. Trabalha com filmes, esculturas, fotografias e livro de artista. Sua obra investiga as atuais ramificações do imperialismo ocidental no continente africano, principalmente no que tange a complicada dinâmica de extração de recursos naturais, em especial do petróleo, nos estados-nação africanos pós-independência. Seus curtas-metragens tratam principalmente de questões relacionadas à identidade, ficção cientifica africana e o legado do modernismo. Participou de festivais e exposições como o Festival de Rotterdam, Holanda (2015); Impakt Festival, Utrecht, Holanda (2012), no Tate Modern, Londres, Inglaterra (2011); no Kiasma Museum of Contemporary Art, Helsinki, Finlândia (2011); entre outras. Em 2010, recebeu o prêmio Standard Bank Young Artist em artes visuais. Vive e trabalha em Johannesburgo.

Excuse Me, While I Disappear, 2014 | vídeo, 19’10”

A obra se debruça sobre Kilamba Kiaxi, empreendimento urbanístico em Luanda, e sobre a jornada de trabalho de um jovem, para assinalar o impacto do fluxo internacional de capitais no mercado global. O surreal desfecho do filme parece sublinhar a inadequação de Kilamba Kiaxi como projeto imobiliário – oferecendo apartamentos a um preço impossível para a grande maioria da população de Angola – e, ao mesmo tempo, refletir sobre as absurdas condições de trabalho do sistema neoliberal contemporâneo.

PAULO NAZARETH (BRASIL)
Prêmio de Residência Arquetopia_Videobrasil (Arquetopia — Puebla, México)

Paulo Nazareth realiza, a pé, longos percursos entre países e continentes, extraindo deles vídeos, impressos e performances. Fez exposições individuais como Genocide in Americas, na Meyer Riegger, Berlim (2015), Che Cherera, na galeria Mendes Wood DM, São Paulo (2014) e Premium Bananas, no Museu de Arte de São Paulo (2012). Participou da 55ª Bienal de Veneza (2013), da Bienal de Montevideo (2013), da Bienal do Benin, Cotonou (2012/13), da Bienal de Lyon (2013) e da coletiva Imagine Brazil, Astrup Fearnley Museet, Oslo (2013). Contemplado com o Prêmio Masp de Artes Visuais – Mercedes-Benz (2012), tem obras em acervos como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – Coleção Gilberto Chateaubriand, Astrup Fearnley Museet, Oslo, e Rubbel Family Collection, Miami.

L’Arbre D’Oublier | 2013, vídeo
Cine África | 2012-2013, vídeo

Cine Brasil | 2012-2013, vídeo
Ipê Amarelo | 2012-2013, vídeo

Em longos trajetos realizados a pé, o artista questiona identidades étnicas e nacionais e põe em tensão a escala global. L’Arbre d’oublier [Árvore do esquecimento] foi filmado em Ouidah, no Benin, um dos maiores portos de tráfico de escravos africanos nos séculos 18 e 19. Os homens escravizados que partiam de lá eram obrigados a dar sete voltas na Árvore do Esquecimento, num ritual de apagamento de memórias afetivas e identidade. Na mesma árvore, o artista dá 437 voltas de costas, numa tentativa poética de rebobinar a história. Nos outros três vídeos, repete o gesto ao redor de árvores em outros locais, como um ipê-amarelo, árvore símbolo nacional do Brasil, em Belo Horizonte.

PILAR MATA DUPONT (AUSTRÁLIA)
Prêmio de Residência Wexner Center for the Arts (Wexner Center for the Arts — Columbus, EUA)

Pilar Mata Dupont é artista visual. Transitando entre vídeo, fotografia, performance e design, sua produção investiga ideias de nacionalismo e identidade. Expôs em coletivas no The Secession Building, Viena (2014), Tokyo Metropolitan Museum of Photography (2014), Akademie der Künste, Berlim (2012), Gallery of Modern Art, Brisbane (2012, 2008), Centre Georges Pompidou, Paris (2011) e na 17ª Bienal de Sydney, entre outras. Ganhou o prestigioso prêmio Basil Sellers Art Prize em 2010, em parceria com Tarryn Gill. Vive e trabalha entre Perth, Austrália, e Roterdã, Holanda.

Purgatorio | 2014, vídeo

A construção do Estado moderno está intimamente ligada ao surgimento da burocracia. No correr na história, as estruturas burocráticas frequentemente se comprometem com projetos políticos específicos, contribuindo para escamotear, com um verniz de isonomia, o fato de cidadãos de origem e ideias distintas receberem tratamentos muito diferentes. Esta opereta brechtiana revela que, por trás de guichês, computadores, telefones, fichários e balcões, escondem-se os responsáveis finais pelo destino de excluídos, asilados, torturados, imigrantes e outros personagens que jamais encontram guarida na arquitetura do poder.

ROY DIB (LÍBANO)
Prêmio de Residência Vila Sul – Goethe-Institut (Residência Vila Sul — Salvador, Brasil)

Roy Dib é artista e crítico de arte. Território, memória e imaginação conjugam-se em seus filmes, vídeos e instalações, que têm como foco as construções subjetivas do espaço e o modo como refletem o contexto geopolítico do Oriente Médio. Suas obras foram exibidas no EcransMed Film Festival, Montreal (2014), Berlinale, Berlim (2014), Video Works, Beirute (2014, 2011), Parallel Vienna (2013), Rotterdam International Film Festival (2013) e Palais de Tokyo, Paris (2012), entre outros. Vive e trabalha em Beirute.

A Spectacle of Privacy | 2014, videoinstalação

As disputas íntimas, regidas pela esfera das emoções que incidem sobre os corpos, estão também submetidas e entremeadas pelas lutas políticas e sociais. Em A Spectacle of Privacy, um casal protegido pela privacidade de um quarto de hotel discute sobre o uso de preservativos, num jogo de poder que é, a um tempo, sexual e político: controle e disputa estão lado a lado de confiança e cumplicidade. A origem distinta dos amantes ecoa as animosidades entre Israel e Palestina; um contexto público pauta sentimentos e percepções das relações mais íntimas.

TAUS MAKHACHEVA (RÚSSIA)
Menção Honrosa

Taus Makhacheva é artista visual, bacharel em artes pela Goldsmiths College, Londres, Inglaterra, 2007, e mestre pela Royal College of Art, na mesma cidade, 2013. Atua com vídeo, fotografia e instalação em uma prática baseada na performance. Cidadã russa, descendente do grupo étnico Avar, da região da República do Daguestão, questiona as formas tradicionais de constituição da história, assim como as normas culturais e de gênero, a partir de uma reflexão sobre o papel da herança tradicional na contemporaneidade. Em seu trabalho, a paisagem da região do Cáucaso e sua história se conjugam em uma reflexão sobre o natural e o cultural, identidade e alteridade. Suas obras foram exibidas no Museum of Contemporary Art, Leipzig, Alemanha (2014); 55ª Bienal de Veneza, Itália (2013); 7ª Bienal de Liverpool, Inglaterra (2012); 11ª Bienal de Sharja, Emirados Árabes (2013); 4ª Bienal de Arte Contemporânea de Moscou, Rússia (2011); Moscow Museum of Modern Art, Rússia (2010). Vive e trabalha entre Makhachkala e Moscou.

Gamsutl, 2012 | vídeo, 16’01”


Em Gamsutl, observamos as ruínas de uma vila avare, grupo étnico originário da região de Dagestan, nas montanhas do Cáucaso. Seu isolamento não o preveniu contra as investidas que acabaram por desestruturá-lo social e economicamente. Nesta obra, Makhacheva fala do tempo como matéria da história, mas também como recurso poético para conectar passado e futuro. Da especificidade de seu contexto cultural, a artista agrega saber poético e crítica política em relação a distintas experiências do Sul geopolítico.


SERVIÇO

O que: Itinerância 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil | Obras Premiadas
Abertura: 4 de outubro de 2016, às 19h
Programas Públicos: 4 de outubro de 2016, às 19h30 | “O Sul Global e o 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil”
, com o antropólogo Alex Flynn, a jornalista e pesquisadora Nathalia Lavigne e mediação do pesquisador Ruy Luduvice

Visitação: 5 de outubro a 05 de fevereiro de 2017 | Terça a sexta, das 13h às 22h; sábados, domingos e feriados, das 9h30 às 18h30.
Sesc Rio Preto: Av. Francisco das Chagas Oliveira, 1333 - Chácara Municipal, São José do Rio Preto - SP
(agendamento de grupos: [email protected])

Entrada gratuita
sescsp.org.br/riopreto